Sunday, October 16, 2005

Canárias - Lanzarote

Pois é, depois de muito tempo, volto a carga, pena que atrasado.
Vou falar um pouco da minha viagem por duas das Ilhas Canárias, Lanzarote e Fuerteventura.
Dois lugares muito interessantes! Falarei primeiro de Lanzarote.
É um lugar muito apreciado pelos italianos. Não é tão caro e nem tão longe. E tem praias estupendas.
Passei dez dia por ali, mais ou menos 5 em cada ilha. Tem um álbum de fotos nesse mesmo site, onde vocês poderão entender um pouco mais do que se vê por ali.
Para quem não sabe, as Ilhas Canárias pertencem à Espanha, mas ficam encostadas na África, mais precisamente na costa do Marrocos. Comecei por Lanzarote, ilha vulcânica com paisagens um tanto áridas e desérticas. Por ali é imprescindível alugar um carro. Devo dizer que visitei quase toda ilha. Estive hospedado em perto de Puerto del Rosario, ponto de muita vida noturna, comercial e com praias enormes. O estilo de praia na Europa é um pouco diferente do nosso. Tem muitas cadeiras de praia a pagamento. Ou seja, você aluga a cadeira para o dia todo. E tem zonas livres onde qualquer um pode ficar e colocar a sua toalha.
Nessa região as praias são legais, mas nem tanto, perto de outras que visitei. Continuando a visita pela ilha fui ao Parque Nacional de Timanfaya, área que teve as últimas atividades vulcânicas da ilha. Interessantíssimo, você praticamente passa no meio de onde a lava deixou seu rastro e vai inclusive vendo um monte de bocas (crateras). Dava até para comer num restaurante que fazia carne grelhada no calor que vinha da atividade vulcânica! Outra coisa legal, descobri que a planta mais famosa e utilizada ali é o Aloe Vera (que a gente conhece tanto pelos cremes de pele, shampoos, etc...).
Um dos lances mais interessantes do parque foi o passeio de camelo, isso mesmo, eles tem camelos por lá!! Bem, se pensar bem está bem perto do Saara!!!
Ainda pela parte sul um local lindo também foi El Golfo, em prática uma pequena praia de areias escuras com um pequeno charco de uma cor verde muito forte, e as montanhas atrás com formações muito diferentes.
Lugar especialíssimo mais ao norte da ilha é a cueva de los verdes. Na verdade você entra por um túnel de lava tem formações muito legais dentro, além da iluminação criada por um artista plástico para realçar as formas das rochas. Por ali uma coisa impressionante, dentro tinha um lago que parecia um abismo, a gente só percebeu que era água quando a guia jogou uma pedra ... Antes disso era uma ilusão de ótica: a água servia de espelho do teto, fazendo dar a impressão que era um abismo!
Ainda nessa região visitei os Jameos del Agua, também parecido com o outro, no final são entradas de túneis de lava onde a água do mar acabava entrando. Nesse em particular um artista plástico resolveu fazer uma piscina mais 'incrementada' e vender a composição como obra de arte... Sugiro que vcs vejam o meu álbum para ter uma idéia.
Bem, tem tanta coisa a dizer ... Espero não ser tão longo!
Outro local interessante é a primeira vila da ilha: Vila Teguise. Casinhas brancas com portas verdes em geral. Além de terem teto plano, provavelmente porque não chove quase nunca! Muito sugestiva.
Falando mais de praias, a preciosidade da ilha: Praia do Papagayo. Uma ponta onde se chega apenas por estrada de terra. Mas realmente vale a pena, águas de uma cor que não vi nem no Brasil, ou em poucos lugares. Ali dá para se fazer snorkeling tranquilamente. Não muito longe dali, playa Blanca, fiz o meu retorno aos mergulhos. Nada muito especial (principalmente para quem já mergulhou em Noronha!), mas foi muito útil para relembrar os procedimentos.
Para finalizar o ponto de Lanzarote, que no final não é exatamente ali: Isla de la Graciosa.
O nome não engana. Uma ilhota que é um parque natural, lindíssima e ainda isolada. Para se chegar na praia mais linda, chamada playa de las conchas, uma hora de caminhada. Mas certamente valeu o esforço.
Teve uma hora que fiquei com a praia só para mim!!!
Bom, por hora paro por aqui para não alongar muito!!!

Até a próxima


Wednesday, July 13, 2005

High Tech Europeu

Aqui vai mais um comentario bem divertido a respeito das maravilhas italianas!

Estive nesse fim de semana em San Gimignano, região da Toscana, que por sinal é uma das mais bonitas da Itália.

Depois de uma longa viagem desde Pisa (são estradas pequenas), deixamos o carro num estacionamento. Claro, depois de tanto tempo algumas necessidades fisiológicas eram necessárias... Não são todos os estacionamentos por aqui que tem banheiro...

Perguntamos a um funcionário que nos indicou um banheiro fora, perto das escadas de subida à pequena cidade medieval.

Para nossa surpresa eram daquelas cabines fechadas que se auto-higienizam. Coisa high-tech. Nos empolgamos com essa 'coisa' de primeiro mundo, até perceber um pequeno problema, a máquina só aceitava moedas e não dava troco...

E aí foi um pouco duro, estavamos apertados e não encontravamos dinheiro trocado... No final a minha cunhada tinha umas moedas e pudemos entrar.

Coisa de filme de ficção, vc coloca a moeda e a porta prateada se abre lentamente. Se entra, faz o que se deve, e após sair a máquina fica um minuto em fase de limpeza (dá pra escutar o barulho de fora).

Mas o mais divertido é que pensei: 'Legal, muito bonito, mas e se a pessoa não tem moeda ou dinheiro?'

Monday, June 20, 2005

Tour na Espanha

Estou meio atrasado com meus blogs, mas ai vai o primeiro da viagem que fiz recentemente à Espanha.
Bom, pra começar, duas semanas atrás teve um feriado prolongado aqui na Itália e acabei indo visitar uma grande amiga que havia conhecido no Caminho de Santiago que fiz em 2002.
Maria é uma pessoa que tem uma energia muito grande e sei que acabamos estreitando a nossa amizade depois que vim para cá. Ela mora em uma região da Espanha muito bonita, que eu ainda não conhecia, o principado das Astúrias, que fica na costa Cantábrica ao norte, entre o país basco e a Galícia.
Tive a sorte de conseguir uma passagem muito barata com uma low-cost (aqui na Europa tem muitas cias aéreas desse tipo) e paguei apenas 65 euros, ida e volta. Nesse ponto o Brasil ainda tem muito que aprender em matéria de passagens baratas!
O voô era Roma-Santander (duas horas), que fica na costa também. Gentilmente ela foi me buscar de carro, pois Santander fica a umas duas horas de Candás, a pequena e encantadora cidade onde mora.
Na verdade eu não tinha muitos dias, cheguei na sexta depois do almoço e retornaria na segunda bem cedo. Então enquanto retornávamos do aeroporto até sua casa, ela já começou o trabalho de cicerone.
O primeiro lugar que visitamos foi o Santuário de Covadonga, que fica no Parque Nacional dos Picos de Europa, uma região montanhosa muito bonita. Encravada em umas destas montanhas, estava uma igreja do início do século 20 em estilo gótico. Muito interessante, construída por um alemão. O interessante é toda a história que tem em torno, pois o local é onde ocorreu uma batalha da resistencia contra os mouros lá pelo ano 700. O protagonista é muito famoso na Espanha: don Pelayo.
O local se tornou uma espécie de lugar santo, com uma capela em uma gruta onde muita gente vai em busca de graças divinas.
Chegando a Candás relaxamos um pouco e logo depois saímos para conhecer a pequena cidade e beber algo.
Uma cidadezinha muito acolhedora (fica na costa também) e com toda energia espanhola: cheia de bares onde as pessoas se reúnem para comer os famosos 'tapas' (porções) e beber a típica sidra!
Atenção que não é a sidra que conhecemos no Brasil, que é um espumante. A sidra ali é uma bebida alcólica de 6 graus mais ou menos, e diria que é uma espécie de cerveja de maçã.
O mais curioso é a forma de bebê-la: o garçom pega a garrafa e erguendo o braço acima da cabeça despeja dois dedos de sidra num grande copo que ele segura com a outra mão na altura da cintura. Daí se bebe tudo de um gole só, deixando uma pequena parte que se deve jogar fora em canaletas apropriadas no chão do bar!!! Tem toda uma teoria para isso que certamente não conseguiria explicar.
Sei que fizemos uma peregrinação de sidra em pelo menos três bares, e no último se não comesse algo certamente teria ficado mal!
No dia seguinte fomos conhecer os arredores da pequena cidade, e com a luz do dia a coisa é diferente, tem uns pequenos caminhos que onde se vê a costa recortada e com cabos ao longe.
No caminho para Oviedo paramos em um lugar mágico, o cabo Peñas, um promontório lindo com uma vista do Atlântico espetacular.
Chegando em Oviedo, noto outra cidade encantadora e muito organizada (está na parte interior das Astúrias). Incrivelmente limpa, com um belo parque e ruas que mantém uma história muito antiga.
A catedral gótica é muito interessante, embora inacabada por falta de verbas (não é somente hoje que vemos esse filme) mantem um fascínio das igrejas desse estilo.
Uma coisa curiosa em Oviedo são estátuas do Botero no meio da cidade, uma mistura estranha com edifícios do início do século passado.
Depois do almoço seguimos para a casa de família da Maria, que fica nas montanhas da Reserva de Muniellos, que está na fronteira com a província de Leon mais ao sul.
Bem, aqui não contarei muito, além de dizer que é um lugar muito bonito e que será tema para outro blog separado.
No domigo, depois de almoçar na casa de montanha, seguimos para conhecer Gijón e encontrar Juan, namorado de Maria.
Gijón fica na costa e também é uma cidade muito agradável com um parque com vista ao mar e cabos ao longe.
Interessante que num grande gramado que dá vista ao mar, tem uma escultura moderna enorme que na minha opinião é muito feia e não tem nada a ver com a paisagem paradisíaca do local.
Me contava Juan, que é guarda florestal, que Gijón era porto de partida para caça de baleias e até as ruas tem nomes associados com essa atividade, como o 'tránsito de las ballenas'.
Jantamos juntos, conversamos e nos divertimos muito. Juan fala um pouco de português e tinha já estado no Brasil. Incrivelmente em lugares não tão famosos para um turista europeu, como a Chapada Diamantina e o projeto Tamar no litoral baiano.
No dia seguinte segui para Santander de ônibus para pegar o avião de volta a Roma. Tive uma horinha para dar um passeio pelo calçadão da cidade, que fica na beira-mar. Mais uma cidadezinha muito agradável e bem organizada.
Aliás, nem vou insistir muito, pois a Espanha é um país que me surpreendeu muito e que tenho ótimas recordações e principalmente grandes laços de amizade.


Wednesday, June 8, 2005

INPS italiano!

Olá pessoal, aqui vai o meu primeiro blog que não é sobre viagem!!

O sujeito entra numa academia e lhe dizem que é necessário um atestado de saúde para poder frequentá-la. O cidadão vai no médico de base (na Itália você tem que tirar a sua 'carteira-saúde' e escolher o tal médico de base, que em geral é escolhido perto da sua casa) e este lhe diz que seria mais garantido fazer um eletrocardiograma e ir ao cardiologista, visto que fazia tempo que não havia nenhum controle.

Perfeito... O tipo vai ao hospital do INPS (num bairro periférico de Roma), que por sinal é muito bonito e novo, espera mais de uma hora na fila para lhe dizerem que a primeira data disponível era dali a dois meses e teria que pagar o tal do ticket (não é tudo grátis na Itália, só em casos de urgência...).

Beleza, com muita calma, ele faz a reserva e espera pacientemente os dois meses. Quando chega a data, enfim, ele vai ao hospital. A garota o atende, pede o valor do ticket (25 euros) e diz que ele pode subir ao primeiro andar para a consulta, que já tinha horário marcado há dois meses.

No primeiro andar, várias pessoas esperando e ele nota que as portas do consultório estavam fechadas e que tinha escrito: 'Não bater na porta, você poderia incomodar a consulta em andamento'. Bem, quando acaba a consulta, o médico deve sair e chamar pelo nome, pensa ele. Os minutos vão passando e depois de algum tempo ele ouve pessoas batendo na porta e entrando... Então ele decide descer e confirmar com a garota que funciona dessa maneira. Ela diz que sim e ele volta para cima, um tanto inconformado. Afinal, já tinha se passado meia hora do horário marcado.

Finalmente um dos doutores sai, ele se dirige a este, que lhe pede o nome para saber se estava na sua lista ou na do outro médico ao lado. Estava na do outro, claro... Este diz que avisaria o outro doutor que eu já estava esperando.

Finalmente depois de ter que dar a vez a uma senhora grávida, ele entra na sala.

O diálogo é mais ou menos assim:

- O que o senhor está sentindo ?

- Não sinto nada doutor, apenas vim fazer um controle, pois precisava para a academia e porque faz anos que não faço nenhum checkup.

- Tudo bem, pode tirar a camisa e deite que vamos fazer um eletro.

Ele deita, o médico coloca umas ventosas que nem grudam direito e faz o eletro. Não diz nada. Depois comenta:

- Vamos medir a pressão.

E após a medição:

- Está 14 por 8, um pouco alta. O senhor tem que fazer dieta e comer sem sal. Até logo.

O cidadão, boquiaberto, veste a camisa, se senta, enquanto o médico escrevia o resultado do eletro a mão, com a famosa caligrafia ... E pergunta:

- Que tipo de dieta eu tenho que fazer doutor?

- O senhor coma carne branca, verduras. Ah, e frutas também.

Acaba de escrever o resultado do eletro, coloca no envelope e diz:

- Bom dia.

Detalhe, ele nem auscultou o coração...

O tipo sai da sala meio atordoado, depois de 5 cinco minutos se dá conta e fica realmente indignado.

Pois é, o cidadão, pessoal era eu mesmo. E certamente não é nenhuma ficção e nem estou exagerando uma vírgula.

Para quem poderia pensar que essa cena seria de INPS tupiniquim, isso acontece por aqui também!!

Abraços e até a próxima

Alexandre

Tuesday, May 17, 2005

Fim de semana em Assis

Olá pessoal, estou de volta, digamos que não sou um 'bloggueiro' frequente...
Vou falar de uma das cidades que eu tenho uma identificação muito grande por aqui.
Assis, cidade de um personagem muito forte, acho que até o mais cético a qualquer tipo de espiritualidade deve concordar que São Francisco de Assis tem uma força muito grande.
Muitas coisas me fazem ter uma fixação por ela, acho que a primeira é toda a história que gira em torno de um homem que foi de encontro com as riquezas e hipocrisias de uma igreja afastada dos conceitos pregados por Jesus. E todo o seu contato com a natureza, lendas (ou realidades) como a do contato com o lobo fazem com que o local já se encha de uma aura especial.
Acho que a segunda coisa para mim é que a cidade ainda conserva sua característica medieval, com suas igrejas e duomos particulares.
Outra coisa muito interessante da cidade é a cor das pedras que foram (e acredito que ainda são) utilizadas para a maioria das construções: branca e vermelha muito clara.

Essa combinação me dá uma sensação de tranqüilidade impressionante, muito diferente, por exemplo, de Siena, que é uma cidade ultra badalada do ponto de vista turístico, onde as construções medievais são de um marrom (ocre) que a deixa muito escura. Claramente não do ponto de vista de luz, mas de contexto geral.
Bom, o roteiro começa com Santa Maria degli Angeli, onde tem uma basilica barroca enorme, e quando você entra, uma surpresa, um pouco antes do altar principal, tem uma pequena capela medieval, isso mesmo, uma capela dentro de uma igreja! Simplesmente é onde S. Francisco fez o seu voto a serviço de Deus. Logo ao lado desta, uma outra, onde o santo teria morrido. São respectivamente a Porziuncola e Cappella del transito.
Depois, a 5km dali está a cidade propriamente dita, onde com certeza a Basilica de S. Francisco é a mais interessante para os amantes de pintura medieval. E é realmente um deleite para os olhos os afrescos de Giotto. Toda a catedral é afrescada, não tem um ponto que não seja pintado. Na parte inferior mais afrescos e uma cripta com a tumba de S. Francisco.
Outros pontos interessantes são a Basilica de Santa Clara, outro personagem forte dessa cidade, a Basilica de San Rufino, San Pietro, a vista maravilhosa dos campos abaixo de Assis (a cidade fica numa colina), rocca Maggiore (castelo medieval no alto da cidade).
E um pouco fora, um lugar especial, Eremo delle Carceri, que era onde S. Francisco e seus companheiros se recolhiam para fazer meditações. Um lugar numa montanha, com bosques e grutas e pequenas trilhas. O lugar possui uma energia impressionante, que nos faz refletir como esse mundo pode ser tão violento quando exitem lugares como esse que nos dizem tantas coisas positivas.
Bom, fico por aqui para que esses blogs não fiquem muito longos.
Voltarei em um outro para falar de alguns acontecimentos curiosos em Assis.
Abraços

Thursday, April 28, 2005

Viagem à Sicilia

E aqui vai o meu primeiro Blog!
É uma coisa louca esse mudo informático, mas devo dizer que é muito interessante poder bancar o repórter ou compartilhar idéias com o 'mundo'.
No fim de semana passado (feriado na segunda, aqui na Itália) decidi fazer uma viagem com um colega para conhecer um local que há muito me atraía: a Sicilia.
Na verdade o que eu gostaria de comentar aqui é o contraste de uma beleza estupenda com uma grande pobreza e falta de organização, tão conhecida por nós da terra brasilis.
Acho que a primeira coisa que os meus amigos poderiam dizer seria: 'Poxa, o Alexandre é um cara de muita sorte, viajar para esses lugares, Europa, tudo organizado, etc...'
Claro que por um lado é um privilégio estar por aqui, por outro, tenho que admitir que o que eu pensava de um país europeu está bem longe da minha expectativa.
Diria também que eu sou muito crítico nesse ponto, aliás era muito exigente inclusive com o Brasil, mas vou deixar de rodeios e começar a contar um pouco da aventura.
Tudo começa com um voô low-cost Roma-Catania, apenas um pequeno atraso de quase 2 horas ... Sem contar a falta de informação no aeroporto de Fiumicino (Roma) deixa você esperando sem saber o que está acontecendo.
Chegando a Catania, o aeroporto já me fez lembrar coisas do Brasil, pequenino, reformando e aquela bagunça!! Para pegar o carro que alugamos, uma balconista muito 'delicada' nos atendeu. Parecia aqueles dias de cão, depois um incrível problema para chegar ao hotel: ruas e estradas completamente mal indicadas e uma coisa terrível: o pior estilo de motorista que já vi por aqui na Itália.
Mas aqui começa um pouco do contraste que eu dizia antes, num certo ponto em uma rua, perguntamos a um rapaz num fiat se ele conhecia o endereço do nosso hotel. Para minha surpresa, ele disse que sim e que nos acompanharia até lá. Imagina, isso no Brasil seria completamente loucura, primeiro porque ninguém se disporia a fazer tal coisa e se fizesse certamente eu acreditaria que seria qualquer delinquente querendo me assaltar.
Depois de perder quase meio dia nessa brincadeira (Catania é a 1h de voô de Roma) começamos a relaxar. Pegamos o carro e fomos a algumas localidades e praia perto.
Já se podia ver o Etna, imponente e mágico. É o maior vulcão da Europa e chega a 3300 metros de altitude.
Visitamos 'paesinos', como se chamam aqui os pequenos vilarejos. Acicastello, Acireale, Acitrezza. Promontórios com praias escavadas em pedras vulcanicas. Numa dessas vilas, um senhor na porta de uma casa vestido com paletó e gravata e um relógio de bolso com a corrente pendurada no colete me deixou impressionado, era como se o tempo tivesse parado por ali no século 19.
Águas de uma cor maravilhosa, de fazer inveja a qualquer praia do Brasil. Decidimos seguir mais adiante pela costa e tentar chegar até Taormina, outro ponto fabuloso, que eu já conhecia do filme 'Imensidão Azul' (conta a vida do mergulhador Jacques Mayol).
Porém, mais um daqueles contrastes frustou nossos planos pelo menos nesse dia. Para chegar lá teríamos que atravessar esses vilarejos de carro (eram apenas uns 15kms...). Tentamos, mas depois de mais de uma hora parados no trânsito, quando chegamos era tarde demais, estava no final do dia e decidimos retornar depois.
No dia seguinte vistamos Siracusa, famosa cidade natal de Arquimedes, sim, aquele mesmo do 'Eureka'. Uma bela praia, mas infelizmente com construções horríveis ao longo dela. O especial da cidade é Neapolis, com um teatro grego muito bonito.
No penúltimo dia fomos finalmente a Giardini di Naxos, Taormina e Castelmola. A primeira é uma localidade de praia lindíssima, pelo menos o mar, de resto, nada que não seja igual ao litoral norte de São Paulo. No sentido de bares e restaurantes na orla.
Finalmente Taormina, sim, tem algo de muito diferente de nós, são aqueles vilarejos que ficam num topo de uma pequena montanha, com vias estreitas e cheias de negócios. Uma vista maravilhosa e um teatro grego com vista para a baía e para o Etna. Espetacular! Mas mais um dos contrastes: nem dava para caminhar de tanta gente...
Nas noitadas conhecemos Catania, uma cidade muito interessante, que identifiquei muito com o que a gente tem por aí. Uma cidade com prédios antigos, barrocos, caindo aos pedaços, becos, ruas sujas e um pequeno caos. E mais, pela primeira vez escutei de um italiano que certas áreas da cidade eram bem perigosas. Me fez lembrar da nossa paranóia com a segurança.
Incrível é uma rua da cidade onde tem açougues que vendem carne de cavalo e na calçada preparam polpetas e bifes de cavalo em mini-churrasqueiras ao ar livre... Me fez lembrar do famoso churrasquinho de gato, guardada as devidas proporções, claro.
E no último dia fizemos um passeio ao Etna, isso mesmo, fomos até mais ou menos 2000 metros e cheguei mesmo a entrar em uma cratera extinta... Mas o mais incrível foi entrar num túnel debaixo de um rio de lava, formado pelo gás expelido por ela. Me senti como na 'Viagem ao Centro da Terra', de Julio Verne.
Para não me alongar muito, outra coisa especial da Sicilia é a gastronomia, principalmente os doces a base de amêndoas e alguns a base de ricota (a tal da cassata siciliana é uma delícia!). Uma curiosidade, o vinho de amêndoas é uma espécie de licor para acompanhar doces, não precisa nem falar se é bom ou não!!
Agora a conclusão de toda essa história: muitas vezes fui muito crítico com o Brasil, o modo como tratamos o turismo e uma certa falta de 'civilização'. Tudo bem, isso acontece muito por aí, mas por aqui a coisa também não é perfeita, aliás eu nem tinha a pretensão de que seria. Mas muitas vezes penso que onde estou me deu uma certa desilusão.
Digo isso inclusive como aviso aos navegantes, que de repente gostariam de se aventurar por uma vida aqui na Europa, nem sempre é o sonho que se espera. Como também diria que não podemos com isso dizer que o Brasil é o melhor país do mundo. Hoje posso dizer tranquilamente que cada povo tem a sua cultura e a sua própria maneira de ser. Pode parecer óbvio, mas acho que para fazer a ficha cair, tem que vivenciar isso.
Abraços a todos
Alexandre Calderaro